sábado, 14 de março de 2015

A segunda renascença

Todos nós gostaríamos de entender a razão de tanto radicalismo nos dias de hoje, principalmente quando é em nome de Deus, ou Alá, O criador, A mãe Natureza, ou seja, os vários nomes que a humanidade vem nomeando a força que faz existir a vida, desde que descemos das árvores e aprendemos a andar de pé e a nos comunicarmos. Nesse período primitivo pré-histórico, descobrimos a finitude da vida, mas ainda de uma forma digamos selvagem quase como animais que sabem a hora que vão morrer. Daquele tempo para hoje evoluímos de uma forma muito rápida, principalmente a partir do início do século XX em diante. Todos já sabemos das conquistas da humanidade, até o mais ignorante sabe até onde chegamos. Mas então porque tanta selvageria se já havíamos deixado para trás essa condição? Nos primórdios das primeiras civilizações, a dez mil anos atrás, o que a arqueologia-antropológica chama de Neolítico, o homem parou de ser nômade e aprendeu a se fixar na terra e domesticar animais, até aí todo mundo sabe. Depois vieram as civilizações que já conhecemos. Mas para mantê-las, era necessário organizá-las, e toda sociedade necessita de ordem, e então descobrimos o poder social. O poder social geralmente associava a lógica de que quem governava conhecia o sentido da existência de quem nos criou. A autoridade social costumava associar esse poder a algo divino. Esse poder andou na mão de pessoas e sociedades de toda natureza. Em seguida devido a capacidade de ter consciência de si mesmo e sua impermanência, o ser humano organizou sua existência, através do caminho de volta à quem lhe criou, a religião. Daí em diante, a imaginação, a criatividade e as conclusões subjetivas de tantos pensadores deslancharam num mar de formas religiosas e filosofias espirituais que propunham acalmar as dúvidas e medos da impermanência humana. O resultado que vemos hoje desse antigo projeto humano ainda não nos trouxe o tão sonhado conforto e harmonia que eram propostos. Parte do mundo civilizado hoje sabe que educar através da religião usando medo, culpa castigo e principalmente a palavra salvação não deram bons resultados. O  pensamento religioso através dos dogmas fechados, dentro da literatura religiosa,  perduram-se à séculos, sem ao menos promover uma abertura a seus crentes dentro de um vórtice de evolução de costumes, quebra de tabus sociais, que foram conquistados com muito sacrifício humano onde religião não teve forças para oferecer soluções. No último século que se fechou a soma de conflitos bélicos entre nações foi maior, do que o registro de todas as guerras que a humanidade tem registrada nos anais da história. As guerras humanas quando não tinham um fundo religioso, eram uma busca para aplacar o drama humano. A fome e a pobreza estão intimamente ligadas a condição de sobrevivência, ou seja, comida, território e crenças culturais foram combustíveis históricos para os conflitos. A ideologia política moderna não associada a religião é relativamente nova, mas as duas ideologias travaram duelos durante muito tempo para manter culturas sob controle, e ainda o fazem. No entanto acho que muitos devem fazer a pergunta: Estamos mesmo no século XXI? É claro que as incertezas sobre o tempo futuro sempre existiram e sempre existirão, pois a evolução é um caminho contínuo. O que espanta, é que a religião ainda imita o passado, levantando bandeiras de justiças divinas. Se a ideia da existência de um Deus criador, veio um dia para nos confortar e harmonizar nossa existência, então porque, os erros das guerras religiosas de hoje  tão recorrentes? Em 1454, quando a antiga cidade de Bizâncio  que fora um dia a ultima capital Romana do oriente, homens de ciência, filosofia ,matemática e outros estudos migraram para a cidade de Florença na Itália fugindo da ocupação islâmico-turca (Império Otomano). Naquele momento Florença já era um terreno fértil saído da idade média com alguma herança da cultura Greco-Romana. Esse ethos da educação Grega, chamado pelos historiadores, de Paidéia (educação Grega), exerceu influência sobre impérios ocidentais e alcançaram até o limite das fronteiras com a índia. Essa educação clarificou a visão do mundo ao nosso redor, sobre democracia, política, filosofia, ciências de toda ordem especulativo empírica. Esses sábios vindos de Bizâncio deram ao mundo Copérnico, que no seu estudo astronômico provou que a terra girava em torno do sol, e não a teoria do geocentrismo que a igreja tanto defendia, sobre a terra ser o centro do universo. Suas provas foram sustentadas por Galileu Galilei, astrônomo italiano e professor da universidade de Siena perto de Florença. Mais uma vez a religião colocou-se no caminho do desejo humano de conhecer sua natureza e a inquisição católica obrigou Galileu a declarar publicamente que a terra era o centro do Universo. O astrônomo alemão Keppler e seu estudo da mecânica celeste se juntou aos filhos da Renascença, assim como o monge católico, Giordano Bruno, que em 1600, foi queimado em praça pública por replicar as teorias de Copérnico e Galileu. Interessante era a visão que Giordano tinha sobre Deus, mesmo fazendo parte de uma instituição religiosa. Ele mostrava ter uma interpretação mais livre sobre a ideia de Deus, de forma não dogmática. O cristianismo deixou de ser fundamentalista a partir da evolução social e política dos estados e sua categoria como instituição Laica. Daí em diante o homem como ser social descobriu um caminho, mais aberto a experiências na natureza, seus fenômenos físicos, e sua própria espécie como ser evolutivo. O laicismo de estado recebeu influência do iluminismo sobre como pensar a liberdade e o bem estar do ser humano como individuo social e novas formas de organização. O estudo da ciência deu um grande salto, a partir dessa revolução sobre a ótica do estado mais independente da religião. Podemos fazer talvez um paralelo entre a Europa ocidental e os estados islâmicos para tentar saber em que nível se encontra a influência religiosa num mundo contemporâneo e globalizado onde tudo deve ser pensado e refletido de forma dinâmica, pois tudo afeta a todos. O ocidente encontra-se em um nível de desdobramento de suas descobertas nos últimos 200 anos, tanto no campo social, científico, tecnológico quanto sobre suas liberdades filosóficas de autocrítica que não nos parece nesse momento ter que retroceder no tempo para resolver questões de choques culturais e religiosos. 


O extremismo que mais incomoda hoje além de outros não menos importantes é o conflito das sociedades judaico-cristãs versos Islã. No cenário atual contrastamo-nos com religiões de estado do mundo árabe e países da mesma língua principal mecanismo de expansão do islã por séculos. Acontece que no mundo islâmico não houve avanço na ciência política nos últimos séculos principalmente levando em consideração que os árabes também como os bizantinos eram portadores das ciências Gregas vindas pelas portas do mundo ibérico e sua dominação e ocupação nestas terras durante a idade média.  As colônias europeias nas primeiras décadas do século XX em países de língua árabe e o advento da 1ª Guerra  ajudaram a criar um fosso, um vácuo no tempo onde o laicismo do estado não se fez presente, pois essas culturas já fortemente influenciadas pelo advento do islã, tornaram-se um só corpo fazendo-os esquecer  seu grande passado de descobertas científicas constatados nos anais. Faltou ao mundo árabe promover de um modo menos ortodoxo uma abertura de costumes quando essa clamou. Assim a primavera árabe demonstrou ser um sintoma da necessidade de um retrato em que a sociedade clama pela mudança, onde a grande maioria não teve acesso as riquezas principalmente do mercado do petróleo, onde o controle é exercido por líderes de correntes interpretativas do Alcorão basicamente numa polaridade entre sunitas, grupos tribais que baseavam-se nas sunas, cujos versos ou registros da virtuosidade do profeta Maomé, ou seja a jurisprudência baseada na sua conduta moral e xiitas, que defendem a sucessão tradicional da linhagem dos parentes do profeta. A forma tribal na conduta geral da cultura árabe religiosa não se apagou até hoje. Esse sistema não conduz a unidade do estado atrasando os anseios das novas gerações que querem mudanças. Os Estados islâmicos se podem chama-los assim possuem números de crescimento industriais, tecnológicos, científicos e sociais nos últimos 50 anos não muito expressivos. A população de povos de língua árabe na Europa de hoje é bem expressiva em relação ao número total de habitantes naturais desses países, que relativamente se equivalem. A exclusão da maioria pobre dos países árabes, a ausência de um estado democrático, a não distribuição das riquezas de forma equitativa gerou a imigração para à Europa durante o último século. O problema é que a cultura ocidental e a cultura do oriente médio encontra-se em estágios social e político, diferentes. A França por exemplo de 1700, moveu-se na direção da república, com a histórica queda da bastilha, o povo contra o poder monárquico absolutista.



Muitos países Europeus daquela época em diante desenvolveram planos embrionários de unificações territoriais e políticas de forma constitucional mesmo algumas mantendo até hoje suas monarquias apenas como representantes institucionais de seus Estados. É claro que naquela época as religiões Cristã Católica, Protestante ou Anglicana tinham suas posições políticas, e se valiam fazer delas. Porém a Renascença e suas sementes haviam sido conservadas no solo fértil do iluminismo. Naquele momento a Europa precisava daquele racionalismo para situar-se no tempo e na história humana vista do ponto de vista independente da religião, pois uma certa independência dos Dogmas Religiosos havia sido criada. A filosofia racional advinda da influência Grega do período Clássico por volta de 420 à 320 a.c era um combustível de base já diluído, mas presente como principio das idéias no mudo ocidental. Fazendo um paralelo grosseiro a Europa hoje estaria vivendo uma segunda Renascença contemporânea colhendo seus frutos e o mundo Árabe ainda vivendo em sua religião de Estado sem a presença do corpo Laico. Isso não quer dizer que o ocidente tenha se libertado de suas contradições entre o mundo judaico-cristão e o estado Laico, mas deram um passo significativo no tempo histórico, daí o conflito no tempo e no espaço social. As ideologias nos separam e os dramas nos unem como natureza humana. Cabe a nós encontrarmos em nossas semelhanças, algo de sagrado. No ocidente hoje ouvimos muito falar na palavra apostasia (afastamento de fé),um termo muito usado pelos católicos, mas também usado por outras religiões. Isso não significa que a humanidade caminha para o fim de uma visão religiosa da vida. Acho que neste momento, devido ao aceleramento da tecnologia a partir do pós-guerra, e que nos trouxe até este momento, estamos lutando para encontrar nossa espiritualidade neste cenário global. O termo pós-modernidade usado nos meios acadêmicos principalmente na Europa(Jean Baudrilard), e outros, falam da despersonalização do indivíduo comum que está em todos, nos fragmentando como ser social. Como diz um ditado tibetano: Aceleramos demais a caminhada agora devemos esperar por nossas almas que ficaram para trás. 

sexta-feira, 13 de março de 2015





Existem duas maneiras de não sofrer.
A primeira é fácil para a maioria das
Pessoas: aceitar o inferno e tornar-se
parte deste, até o ponto de deixar de percebe-lo.
A segunda é arriscada e exige atenção e aprendizagem
contínua. Tentar saber reconhecer quem e o que, no meio do
inferno, não é inferno e preservá-lo e abrir espaço.