Todos nós gostaríamos de entender a razão de tanto
radicalismo nos dias de hoje, principalmente quando é em nome de Deus, ou Alá,
O criador, A mãe Natureza, ou seja, os vários nomes que a humanidade vem
nomeando a força que faz existir a vida, desde que descemos das árvores e
aprendemos a andar de pé e a nos comunicarmos. Nesse período primitivo
pré-histórico, descobrimos a finitude da vida, mas ainda de uma forma digamos
selvagem quase como animais que sabem a hora que vão morrer. Daquele tempo para
hoje evoluímos de uma forma muito rápida, principalmente a partir do início do
século XX em diante. Todos já sabemos das conquistas da humanidade, até o mais
ignorante sabe até onde chegamos. Mas então porque tanta selvageria se já
havíamos deixado para trás essa condição? Nos primórdios das primeiras
civilizações, a dez mil anos atrás, o que a arqueologia-antropológica chama de
Neolítico, o homem parou de ser nômade e aprendeu a se fixar na terra e
domesticar animais, até aí todo mundo sabe. Depois vieram as civilizações que
já conhecemos. Mas para mantê-las, era necessário organizá-las, e toda
sociedade necessita de ordem, e então descobrimos o poder social. O poder
social geralmente associava a lógica de que quem governava conhecia o sentido
da existência de quem nos criou. A autoridade social costumava associar esse
poder a algo divino. Esse poder andou na mão de pessoas e sociedades de toda
natureza. Em seguida devido a capacidade de ter consciência de si mesmo e sua
impermanência, o ser humano organizou sua existência, através do caminho de
volta à quem lhe criou, a religião. Daí em diante, a imaginação, a criatividade
e as conclusões subjetivas de tantos pensadores deslancharam num mar de formas
religiosas e filosofias espirituais que propunham acalmar as dúvidas e medos da
impermanência humana. O resultado que vemos hoje desse antigo projeto humano
ainda não nos trouxe o tão sonhado conforto e harmonia que eram propostos.
Parte do mundo civilizado hoje sabe que educar através da religião usando medo,
culpa castigo e principalmente a palavra salvação não deram bons resultados. O pensamento religioso através dos dogmas
fechados, dentro da literatura religiosa, perduram-se à séculos, sem ao menos promover
uma abertura a seus crentes dentro de um vórtice de evolução de costumes,
quebra de tabus sociais, que foram conquistados com muito sacrifício humano
onde religião não teve forças para oferecer soluções. No último século que se
fechou a soma de conflitos bélicos entre nações foi maior, do que o registro de
todas as guerras que a humanidade tem registrada nos anais da história. As
guerras humanas quando não tinham um fundo religioso, eram uma busca para
aplacar o drama humano. A fome e a pobreza estão intimamente ligadas a condição
de sobrevivência, ou seja, comida, território e crenças culturais foram
combustíveis históricos para os conflitos. A ideologia política moderna não
associada a religião é relativamente nova, mas as duas ideologias travaram
duelos durante muito tempo para manter culturas sob controle, e ainda o fazem.
No entanto acho que muitos devem fazer a pergunta: Estamos mesmo no século XXI?
É claro que as incertezas sobre o tempo futuro sempre existiram e sempre
existirão, pois a evolução é um caminho contínuo. O que espanta, é que a
religião ainda imita o passado, levantando bandeiras de justiças divinas. Se a
ideia da existência de um Deus criador, veio um dia para nos confortar e
harmonizar nossa existência, então porque, os erros das guerras religiosas de
hoje tão recorrentes? Em 1454, quando a
antiga cidade de Bizâncio que fora um
dia a ultima capital Romana do oriente, homens de ciência, filosofia ,matemática
e outros estudos migraram para a cidade de Florença na Itália fugindo da
ocupação islâmico-turca (Império Otomano). Naquele momento Florença já era um
terreno fértil saído da idade média com alguma herança da cultura Greco-Romana.
Esse ethos da educação Grega, chamado pelos historiadores, de Paidéia (educação
Grega), exerceu influência sobre impérios ocidentais e alcançaram até o limite
das fronteiras com a índia. Essa educação clarificou a visão do mundo ao nosso
redor, sobre democracia, política, filosofia, ciências de toda ordem
especulativo empírica. Esses sábios vindos de Bizâncio deram ao mundo Copérnico,
que no seu estudo astronômico provou que a terra girava em torno do sol, e não
a teoria do geocentrismo que a igreja tanto defendia, sobre a terra ser o
centro do universo. Suas provas foram sustentadas por Galileu Galilei,
astrônomo italiano e professor da universidade de Siena perto de Florença. Mais
uma vez a religião colocou-se no caminho do desejo humano de conhecer sua
natureza e a inquisição católica obrigou Galileu a declarar publicamente que a
terra era o centro do Universo. O astrônomo alemão Keppler e seu estudo da
mecânica celeste se juntou aos filhos da Renascença, assim como o monge
católico, Giordano Bruno, que em 1600, foi queimado em praça pública por
replicar as teorias de Copérnico e Galileu. Interessante era a visão que
Giordano tinha sobre Deus, mesmo fazendo parte de uma instituição religiosa.
Ele mostrava ter uma interpretação mais livre sobre a ideia de Deus, de forma
não dogmática. O cristianismo deixou de ser fundamentalista a partir da evolução
social e política dos estados e sua categoria como instituição Laica. Daí em
diante o homem como ser social descobriu um caminho, mais aberto a experiências
na natureza, seus fenômenos físicos, e sua própria espécie como ser evolutivo.
O laicismo de estado recebeu influência do iluminismo sobre como pensar a
liberdade e o bem estar do ser humano como individuo social e novas formas de
organização. O estudo da ciência deu um grande salto, a partir dessa revolução
sobre a ótica do estado mais independente da religião. Podemos fazer talvez um
paralelo entre a Europa ocidental e os estados islâmicos para tentar saber em
que nível se encontra a influência religiosa num mundo contemporâneo e
globalizado onde tudo deve ser pensado e refletido de forma dinâmica, pois tudo
afeta a todos. O ocidente encontra-se em um nível de desdobramento de suas
descobertas nos últimos 200 anos, tanto no campo social, científico,
tecnológico quanto sobre suas liberdades filosóficas de autocrítica que não nos
parece nesse momento ter que retroceder no tempo para resolver questões de
choques culturais e religiosos.
O extremismo que mais incomoda hoje além de
outros não menos importantes é o conflito das sociedades judaico-cristãs versos
Islã. No cenário atual contrastamo-nos com religiões de estado do mundo árabe e
países da mesma língua principal mecanismo de expansão do islã por séculos.
Acontece que no mundo islâmico não houve avanço na ciência política nos últimos
séculos principalmente levando em consideração que os árabes também como os
bizantinos eram portadores das ciências Gregas vindas pelas portas do mundo
ibérico e sua dominação e ocupação nestas terras durante a idade média. As colônias europeias nas primeiras décadas do
século XX em países de língua árabe e o advento da 1ª Guerra ajudaram a criar um fosso, um vácuo no tempo
onde o laicismo do estado não se fez presente, pois essas culturas já
fortemente influenciadas pelo advento do islã, tornaram-se um só corpo
fazendo-os esquecer seu grande passado
de descobertas científicas constatados nos anais. Faltou ao mundo árabe
promover de um modo menos ortodoxo uma abertura de costumes quando essa clamou.
Assim a primavera árabe demonstrou ser um sintoma da necessidade de um retrato
em que a sociedade clama pela mudança, onde a grande maioria não teve acesso as
riquezas principalmente do mercado do petróleo, onde o controle é exercido por
líderes de correntes interpretativas do Alcorão basicamente numa polaridade
entre sunitas, grupos tribais que baseavam-se nas sunas, cujos versos ou
registros da virtuosidade do profeta Maomé, ou seja a jurisprudência baseada na
sua conduta moral e xiitas, que defendem a sucessão tradicional da linhagem dos
parentes do profeta. A forma tribal na conduta geral da cultura árabe religiosa
não se apagou até hoje. Esse sistema não conduz a unidade do estado atrasando
os anseios das novas gerações que querem mudanças. Os Estados islâmicos se
podem chama-los assim possuem números de crescimento industriais, tecnológicos,
científicos e sociais nos últimos 50 anos não muito expressivos. A população de
povos de língua árabe na Europa de hoje é bem expressiva em relação ao número
total de habitantes naturais desses países, que relativamente se equivalem. A
exclusão da maioria pobre dos países árabes, a ausência de um estado
democrático, a não distribuição das riquezas de forma equitativa gerou a
imigração para à Europa durante o último século. O problema é que a cultura
ocidental e a cultura do oriente médio encontra-se em estágios social e
político, diferentes. A França por exemplo de 1700, moveu-se na direção da
república, com a histórica queda da bastilha, o povo contra o poder monárquico
absolutista.
Muitos países Europeus daquela época em diante desenvolveram planos embrionários de unificações territoriais e políticas de forma constitucional mesmo algumas mantendo até hoje suas monarquias apenas como representantes institucionais de seus Estados. É claro que naquela época as religiões Cristã Católica, Protestante ou Anglicana tinham suas posições políticas, e se valiam fazer delas. Porém a Renascença e suas sementes haviam sido conservadas no solo fértil do iluminismo. Naquele momento a Europa precisava daquele racionalismo para situar-se no tempo e na história humana vista do ponto de vista independente da religião, pois uma certa independência dos Dogmas Religiosos havia sido criada. A filosofia racional advinda da influência Grega do período Clássico por volta de 420 à 320 a.c era um combustível de base já diluído, mas presente como principio das idéias no mudo ocidental. Fazendo um paralelo grosseiro a Europa hoje estaria vivendo uma segunda Renascença contemporânea colhendo seus frutos e o mundo Árabe ainda vivendo em sua religião de Estado sem a presença do corpo Laico. Isso não quer dizer que o ocidente tenha se libertado de suas contradições entre o mundo judaico-cristão e o estado Laico, mas deram um passo significativo no tempo histórico, daí o conflito no tempo e no espaço social. As ideologias nos separam e os dramas nos unem como natureza humana. Cabe a nós encontrarmos em nossas semelhanças, algo de sagrado. No ocidente hoje ouvimos muito falar na palavra apostasia (afastamento de fé),um termo muito usado pelos católicos, mas também usado por outras religiões. Isso não significa que a humanidade caminha para o fim de uma visão religiosa da vida. Acho que neste momento, devido ao aceleramento da tecnologia a partir do pós-guerra, e que nos trouxe até este momento, estamos lutando para encontrar nossa espiritualidade neste cenário global. O termo pós-modernidade usado nos meios acadêmicos principalmente na Europa(Jean Baudrilard), e outros, falam da despersonalização do indivíduo comum que está em todos, nos fragmentando como ser social. Como diz um ditado tibetano: Aceleramos demais a caminhada agora devemos esperar por nossas almas que ficaram para trás.
Muitos países Europeus daquela época em diante desenvolveram planos embrionários de unificações territoriais e políticas de forma constitucional mesmo algumas mantendo até hoje suas monarquias apenas como representantes institucionais de seus Estados. É claro que naquela época as religiões Cristã Católica, Protestante ou Anglicana tinham suas posições políticas, e se valiam fazer delas. Porém a Renascença e suas sementes haviam sido conservadas no solo fértil do iluminismo. Naquele momento a Europa precisava daquele racionalismo para situar-se no tempo e na história humana vista do ponto de vista independente da religião, pois uma certa independência dos Dogmas Religiosos havia sido criada. A filosofia racional advinda da influência Grega do período Clássico por volta de 420 à 320 a.c era um combustível de base já diluído, mas presente como principio das idéias no mudo ocidental. Fazendo um paralelo grosseiro a Europa hoje estaria vivendo uma segunda Renascença contemporânea colhendo seus frutos e o mundo Árabe ainda vivendo em sua religião de Estado sem a presença do corpo Laico. Isso não quer dizer que o ocidente tenha se libertado de suas contradições entre o mundo judaico-cristão e o estado Laico, mas deram um passo significativo no tempo histórico, daí o conflito no tempo e no espaço social. As ideologias nos separam e os dramas nos unem como natureza humana. Cabe a nós encontrarmos em nossas semelhanças, algo de sagrado. No ocidente hoje ouvimos muito falar na palavra apostasia (afastamento de fé),um termo muito usado pelos católicos, mas também usado por outras religiões. Isso não significa que a humanidade caminha para o fim de uma visão religiosa da vida. Acho que neste momento, devido ao aceleramento da tecnologia a partir do pós-guerra, e que nos trouxe até este momento, estamos lutando para encontrar nossa espiritualidade neste cenário global. O termo pós-modernidade usado nos meios acadêmicos principalmente na Europa(Jean Baudrilard), e outros, falam da despersonalização do indivíduo comum que está em todos, nos fragmentando como ser social. Como diz um ditado tibetano: Aceleramos demais a caminhada agora devemos esperar por nossas almas que ficaram para trás.